quarta-feira, 3 de novembro de 2010

ARTE NA PRÉ HISTORIA



A arte é uma necessidade do homem, e tudo que sabemos sobre o homem em suas primeiras épocas (alem de suas ossadas) _ deve-se ao artesanato.

O homem primitivo escavou, gravou ou pintou nas paredes rochosas dos seus abrigos, mas e homem da Pré - História; bem, as primeiras manifestações da arte Pré - Histórica foram pequenas estatuetas ou incisões, alem de utensílios de pedra talhada.

A arte desta época é freqüentemente animalista, exceto algumas estatuetas que representam corpos femininos muito estilizados, e as figuras de animais são mais simbólicas.

O período mais antigo é caracterizado por formas geométricas, por silhuetas de animais desenhada com os dedos nas paredes argilosas úmidas e por mão pintadas em negativos sobre um fundo vermelho ou negro. Esta arte é principalmente caracterizada pela intensidade dramática do movimento; o artista não procurava dar as formas reais, mas esquemas, por sinais e símbolos, e outros meios de expressão artística é a cerâmica e utensílios

Fonte: www.eba.ufmg.br
Arte na Pré-História

Um dos períodos mais fascinantes da história humana é a Pré-História. Esse período não foi registrado por nenhum documento escrito, pois é exatamente a época anterior à escrita. Tudo o que sabemos dos homens que viveram nesse tempo é o resultado da pesquisa de antropólogos, historiadores e dos estudos da moderna ciência arqueológica, que reconstituíram a cultura do homem.
Divisão da Pré-História

Paleolítico Superior

A principal característica dos desenhos da Idade da Pedra Lascada é o naturalismo. O artista pintava os seres, um animal, por exemplo, do modo como o via de uma determinada perspectiva, reproduzindo a natureza tal qual sua vista captava.

Atualmente, a explicação mais aceita é que essa arte era realizada por caçadores, e que fazia parte do processo de magia por meio do qual procurava-se interferir na captura de animais, ou seja, o pintor-caçador do Paleolítico supunha ter poder sobre o animal desde que possuísse a sua imagem.

Acreditava que poderia matar o animal verdadeiro desde que o representasse ferido mortalmente num desenho. Utilizavam as pinturas rupestres, isto é, feitas em rochedos e paredes de cavernas. O homem deste período era nômade.

Os artistas do Paleolítico Superior realizaram também trabalhos em escultura. Mas, tanto na pintura quanto na escultura, nota-se a ausência de figuras masculinas. Predominam figuras femininas, com a cabeça surgindo como prolongamento do pescoço, seios volumosos, ventre saltado e grandes nádegas. Destaca-se: Vênus de Willendorf.
PALEOLÍTICO INFERIOR

aproximadamente 5.000.000 a 25.000 a.C.; primeiros hominídios; caça e coleta; controle do fogo; e instrumentos de pedra e pedra lascada, madeira e ossos: facas, machados.
PALEOLÍTICO SUPERIOR

Instrumentos de marfim, ossos, madeira e pedra: machado, arco e flecha, lançador de dardos, anzol e linha; e desenvolvimento da pintura e da escultura.
Neolítico

A fixação do homem da Idade da Pedra Polida, garantida pelo cultivo da terra e pela manutenção de manadas, ocasionou um aumento rápido da população e o desenvolvimento das primeiras instituições, como família e a divisão do trabalho. Assim, o homem do Neolítico desenvolveu a técnica de tecer panos, de fabricar cerâmicas e construiu as primeiras moradias, constituindo-se os primeiros arquitetos do mundo. Conseguiu ainda, produzir o fogo através do atrito e deu início ao trabalho com metais.

Todas essas conquistas técnicas tiveram um forte reflexo na arte. O homem, que se tornara um camponês, não precisava mais ter os sentidos apurados do caçador do Paleolítico, e o seu poder de observação foi substituído pela abstração e racionalização. Como conseqüência surge um estilo simplificador e geometrizante, sinais e figuras mais que sugerem do que reproduzem os seres. Os próprios temas da arte mudaram: começaram as representações da vida coletiva.

Além de desenhos e pinturas, o artista do Neolítico produziu uma cerâmica que revela sua preocupação com a beleza e não apenas com a utilidade do objeto, também esculturas de metal.

Desse período temos as construções denominadas dolmens. Consistem em duas ou mais pedras grandes fincadas verticalmente no chão, como se fossem paredes, e uma grande pedra era colocada horizontalmente sobre elas, parecendo um teto. E o menir que era monumento megalítico que consiste num único bloco de pedra fincado no solo em sentido vertical.

O Santuário de Stonehenge, no sul da Inglaterra, pode ser considerado uma das primeiras obras da arquitetura que a História registra. Ele apresenta um enorme círculo de pedras erguidas a intervalos regulares, que sustentam traves horizontais rodeando outros dois círculos interiores. No centro do último está um bloco semelhante a um altar. O conjunto está orientado para o ponto do horizonte onde nasce o Sol no dia do solstício de verão, indício de que se destinava às práticas rituais de um culto solar. Lembrando que as pedras eram colocadas umas sobre as outras sem a união de nenhuma argamassa
NEOLÍTICO
instrumentos de pedra polida, enxada e tear
início do cultivo dos campos
artesanato: cerâmica e tecidos
construção de pedra
primeiros arquitetos do mundo.
IDADE DOS METAIS
aparecimento de metalurgia
aparecimento das cidades
invenção da roda
invenção da escrita
arado de bois
As Cavernas

Antes de pintar as paredes da caverna, o homem fazia ornamentos corporais, como colares, e, depois magníficas estatuetas, como as famosas "Vênus".

Existem várias cavernas pelo mundo, que demonstram a pintura rupestre, algumas delas são:

Caverna de ALTAMIRA

Espanha, quase uma centena de desenhos feitos a 14.000 anos, foram os primeiros desenhos descobertos, em 1868. Sua autenticidade, porém, só foi reconhecida em 1902.

Caverna de LASCAUX

França, suas pinturas foram achadas em 1942, têm 17.000 anos. A cor preta, por exemplo, contém carvão moído e dióxido de manganês.

Caverna de CHAUVET

França, há ursos, panteras, cavalos, mamutes, hienas, dezenas de rinocerontes peludos e animais diversos, descoberta em 1994.

Gruta de RODÉSIA

África, com mais de 40.000 anos.

Consideramos como arte pré-histórica todas as manifestações que se desenvolveram antes do surgimento das primeiras civilizações e portanto antes da escrita. No entanto isso pressupõe uma grande variedade de produção, por povos diferentes, em locais diferentes, mas com algumas características comuns.

A primeira característica é o pragmatismo, ou seja, a arte produzida possuía uma utilidade, material, cotidiana ou mágico-religiosa: ferramentas, armas ou figuras que envolvem situações específicas, como a caça. Cabe lembrar que as cenas de caça representadas em cavernas não descreviam uma situação vivida pelo grupo, mas possuía um caráter mágico, preparando o grupo para essa tarefa que lhes garantiria a sobrevivência.



As manifestações artísticas mais antigas foram encontradas na Europa, em especial na Espanha, sul da França e sul da Itália e datam de aproximadamente de 25000a.C., portanto no período paleolítico. Na França encontramos o maior número de obras pré históricas e até hoje em bom estado de conservação, como as cavernas de Altamira, Lascaux e Castilho
Arquitetura



Os grupos pré-históricos eram nômades e se deslocavam de acordo com a necessidade de obter alimentos. Durante o período neolítico essa situação sofreu mudanças, desenvolveram-se as primeiras formas de agricultura e consequentemente o grupo humano passou a se fixar por mais tempo em uma mesma região, mas ainda utilizavam-se de abrigos naturais ou fabricados com fibras vegetais ao mesmo tempo em que passaram a construir monumentos de pedras colossais, que serviam de câmaras mortuárias ou de templos. Raras as construções que serviam de habitação.

Essa pedras pesavam mais de três toneladas, fato que requeria o trabalho de muitos homens e o conhecimento da alavanca.



Esses monumentos de pedras foram denominados "megalíticos" e podem ser classificados de: dólmens, galerias cobertas que possibilitavam o acesso a uma tumba; menires, que são grandes pedras cravadas no chão de forma vertical; e os cromlech, que são menires e dólmens organizados em círculo, sendo o mais famoso o de Stonehenge, na Inglaterra.



Também encontramos importantes monumentos megalíticos na Ilha de Malta e Carnac na França, todos eles com funções ritualisticas.
Escultura



A escultura foi responsável pela elaboração tanto de objetos religiosos quanto de utensílios domésticos, onde encontramos a temática predominante em toda a arte do período, animais e figuras humanas, principalmente figuras femininas, conhecidas como Vênus, caracterizadas pelos grandes seios e ancas largas, são associadas ao culto da fertilidade;

Entre as mais famosas estão a Vênus de Lespugne, encontrada na França, e a Vênus de Willendorf, encontrada na Áustria foram criadas principalmente em pedras calcárias, utilizando-se ferramentas de pedra pontiaguda.

Durante o período neolítico europeu (5000aC - 3000dC) os grupos humanos já dominavam o fogo e passou a produção de peças de cerâmica, normalmente vasos, decorados com motivos geométricos em sua superfície; somente na idade do bronze a produção da cerâmica alcançou grande desenvolvimento, devido a utilização na armazenagem de água e alimentos
Pintura

As principais manifestações da pintura pré-histórica são encontradas no interior de cavernas, em paredes de pedra e a princípio retratavam cenas envolvendo principalmente animais, homens e mulheres e caçadas, existindo ainda a pintura de símbolos, com significado ainda desconhecido. Essa fase inicial é marcada pela utilização predominantemente do preto e do vermelho e é considerada portanto como naturalista.

No período neolítico a pintura é utilizada como elemento decorativo e retratando as cenas do cotidiano. A qualidade das obras é superior, mostrando um maior grau de abstração e a utilização de outros instrumentos que não as mãos, como espátulas.

Por volta de 2000aC as características da pintura a apresentavam um nível próximo à de formas escritas, preservando porém seu caráter mágico ou religiosos, celebrando a fecundidade ou os objetos de adoração (totens).

Arte na Pré-História
As artes na pré-história: algo mais que iconografia mágica



Por que e para que?

O interesse de estudo das artes na pré-história é muito amplo, uma vez que constituem rico material para os sociólogos na investigação dos fenômenos institucionais; para os antropólogos, na procura do ser humano a partir das bases de sua fenomenologia vital . Ao esteta e ao historiador da arte o que deve mais interessar é a busca das origens das artes e de seus possíveis significados.

Foi pensando na especificidade dos cursos de Artes Plásticas e de Educação Artística da Escola Guignard que resolvi escrever sobre artes na pré-história. Exatamente porque julgo ser uma boa oportunidade de levantarmos algumas questões, exercitar o nosso raciocínio e compreender o sentido estético das artes.

Compreende-se por pré-história o período que vai desde a origem do homem até a aparição dos primeiros escritos ou ideogramas. Divide-se em três períodos: Paleolítico ou pedra lascada, que tem início, aproximadamente, há 80 mil anos, caracterizando-se pelas atividades de caçador e pescador e a técnica de lascar toscamente a pedra para o fabrico de utensílios e armas. O período Mesolítico é o de transição entre o lascar e o polir a pedra. O Neolítico ou pedra polida ficou, mais ou menos há 10 mil anos de nossa era e caracteriza-se pela técnica do polimento da pedra, princípios da agricultura, domesticação dos animais e vegetais, desenvolvimento da cerâmica e vestígios do uso do cobre e do bronze.

De forma arbitrária, a palavra arte tem sido utilizada para qualificar quase todas as atividades humanas. Contudo, não é falso afirmar que tudo que o homem faz em sociedade é artificial. Os seus instintos são domados e submetidos ao complexo cultural de seu meio. O filhote de um cão, se atirado n'água no mesmo dia em que nasce, não se afogará porque tem condição instintiva de se defender nadando. O mesmo não acontecerá com uma criança: terá que passar por um processo de aprendizagem. O nado de uma criança é, portanto, um artifício. E quando o homem não é capaz ou não está disposto ao artifício de nadar ele usa o artefato (uma ponte ou um barco). O tigre caça com seus dentes e com suas garras naturais enquanto o homem usa o artefato (uma flecha, uma armadilha).

É exatamente isso que difere o homem dos outros animais. O homem é um animal artificioso e cultural, sujeito às leis da sociedade. Já os outros animais estão submetidos às leis da natureza.

Quando as coisas feitas e usadas pelos homens têm funções claras e objetivas, como o arco e a flecha, elas são chamadas de artefatos. Os painéis encontrados nas cavernas de Altamira na Espanha; em Lascaux, na França, representam animais dominados pelos caçadores, como o "Porco Flechado" no painel Oeste da Lapa de Cerca Grande, no município de Matosinhos em Minas Gerais, indica uma prática mágica de um povo caçador que ao representar a cena, acreditava exercer um domínio sobre o animal. Então, se na verdade tais pinturas são de caráter mágico e têm funções objetivas, elas não seriam obras de arte, mas artefatos ou artifícios utilizados pelos homens primitivos que habitaram aquelas regiões há mais de 9 mil anos.

Precisamos compreender que o enfoque econômico dos fenômenos artísticos não deve ser como uma doutrina onipotente explicativa da preponderância do fator econômico, mas que existe uma ação recíproca sobre a base da necessidade econômica que em última análise, que acaba sempre por prevalecer. Daí que o antropólogo, Marco Rubinger, é levado a afirmar: "Cada cultura tem sua esfera ideacional de pontos de comportamento, sincronizada com sua base econômica. É por isso que dizemos cultura de coletores de alimentos, de caçadores, de pastores, de agricultores, de mercadores, de industriais, mistas ou de transição".

Se um povo coletor tem uma rudimentar concepção animista do mundo, um caçador já crê em um deus animal, enquanto que uma sociedade agrícola cultua deuses da fertilidade da terra. "(RUBINGER, M. M, 1979 p 29). Um outro dado importante é que, geralmente, os povos caçadores habitaram as cavernas enquanto os povos agrícolas habitavam os campos, as montanhas e as margens dos rios, apresentando um tipo de arte muito mais refinado.(RUBINGER, M M , 1979 p 38)

Se parássemos por aqui, a questão ficaria muito nebulosa. Na verdade ela servirá para aguçar a nossa vontade de excogitar o significado da arte.

Aristóteles encarava a arte como a ciência do possível, isto é, o que pode ser de um modo ou de outro, como a arquitetura, a poesia, a retórica, a medicina, as artes manuais ou mecânicas. Excluía a lógica, a analítica, a física e a matemática. Já na Idade Média são os trabalhos manuais que significam arte. Kant separou duas classes de arte: a primeira é a arte mecânica onde se cumprem somente as operações necessárias para realizá-la (artefato? artesanato?) . A Segunda é a arte estética onde o fim imediato é o sentimento de prazer. (Arte).

O fenômeno artístico só aparece dentro de condições propícias. Charles Lalo classificou as condições anestéticas e as condições estéticas da arte. As primeiras são os fatores domésticos, religiosos, econômicos e políticos. As segundas estão ligadas ao amor, às sensações e aos sentimentos. É difícil especificar ou separar as condições estéticas das anestéticas de um painel parietal pré-histórico, a exemplo de uma representação de sol (Tradição São Francisco) bem geometrizada, em círculos e raios de cores quentes.

É difícil exatamente porque desconhecemos o momento histórico que o produziu. Esta tarefa torna-se fácil quando conhecemos em profundidade a vida social de um povo. Não sabemos nada mais dos povos primitivos que habitaram as Minas Gerais, senão aquilo que inferimos das obras por eles deixadas nas cavernas. Mas é assim mesmo: na era histórica partimos da organização social para conhecer a arte. Já na pré-história partimos da arte para compreender a sociedade.

Em minha adolescência tive um vizinho que era considerado por todos como louco ou deficiente moral. Certa vez fui ao cinema com os amigos. O vizinho nos acompanhou e assistiu ao filme que tinha como tema a Segunda Guerra Mundial. Terminada a projeção caminhamos pela cidade em animados comentários sobre a história da guerra e sobre o enredo do filme. Surpreendentemente o vizinho nos interrompeu dizendo que nunca mais iria ao cinema, pois era uma perda de tempo ficar ali duas horas com os olhos fixos na tela.

A gente nada mais via senão sombra da fantasia. Para ele o teatro era uma pura fantasia e o cinema uma sombra desta. Por muito tempo fiquei a pensar sobre o meu vizinho: como uma pessoa que era capaz de um pensamento tão lógico, tão racional podia ser considerado um louco? Por outro lado ele devia ter uma "telha" a menos por ser tão duro, tão seco e não sentir necessidade da arte. Dois anos depois ele morreu, aos 22 anos de idade, caindo no esquecimento de sua família.

O tempo foi passando até que um dia eu lia o livro "Cultura e Civilização" , de Câmara Cascudo , quando ele citou a seguinte frase de Menéndez y Pelayo : "Todo ombre tiene horas de niño, y desgraciado del que no los tenga." Minha primeira lembrança foi a do meu desgraçado vizinho. Compreendi, então, que ele havia sido escravo e vítima de uma lógica implacável. Incapaz de romper as algemas que prendiam o seu "Eu" e o impedia de voar. Incapaz, enfim, de compreender ou sentir a sua própria limitação.

Podemos aceitar ou negar a tese do caráter mágico da pintura do período paleolítico (REINACH, S, 1971 p 46). Mas não podemos afirmar que ela não seja artística. Embora extraída da realidade objetiva ela não é a realidade. É a representação imaginosa da realidade. Existiu um sentimento estético embora submetido a finalidades exteriores a ele. Isto é, a finalidades sociais. Será que a pintura que cobre as paredes dos apartamentos de hoje corresponde à finalidade puramente estética? Parece-me que a conquista de "status", muitas vezes, supera a finalidade estética de tais obras.

Quanto à pintura do Neolítico observa-se completa revolução estilística. Os pintores abandonaram o realismo figurativo do paleolítico em favor de uma simplificação e geometrização das imagens visuais. Aproveitam os símbolos e os signos. Usam as formas abstratas e abandonam o figurativismo realista.

E no Brasil?

Até 1951 não havia um livro de informação geral sobre as artes pré-históricas no Brasil. Existiam, sim, artigos publicados em revistas científicas especializadas que repousavam ociosamente nas estantes das bibliotecas. Registravam espaçadamente os casos curiosos observados por arqueólogos, antropólogos estrangeiros e estudiosos brasileiros. Em 1952 foi entregue ao público um extraordinário trabalho intitulado: "As artes plásticas no Brasil", coordenado por Rodrigo de Melo Franco Andrade. Reuniu em seu primeiro volume, as mais preciosas informações sobre o assunto. De lá para cá pouco temos a acrescentar, quer em termos de achados arqueológicos, quer em termos de análise sobre o material existente, embora possa ser registrado um interesse maior pelo assunto.

Pintura

Os registros de pinturas deixadas por sociedades primitivas (Paleolítico) formadas por caçadores são alguns os seguintes:

São Raimundo Nonato, PI, "Tradição Nordeste". Predominância das cores vermelho, amarelo, preto, branco e cinza. Tintas à base de minerais. Usavam pincéis de vegetais e com os próprios dedos. As cenas de caça focalizavam tatus sendo pegos a mão e a golpes de bastão, enquanto as onças eram atingidas com lanças para um ritual. As copas das árvores são representadas por ramagem simples e limpas, formando losangos e triângulos.

Não menos importantes são os painéis da "Tradição São Francisco" (Januária, São Francisco e Montalvânia), onde a geometrização chega a figuração humana em completa abstração, desaguando em uma codificação de complexa fruição . No que pese a complexidade das superposições, ainda se pode identificar com clareza uma roça de milho entremeada por animais.

Cerâmica

Segundo os estudiosos os povos com base na economia agrícola geralmente possuem arte cerâmica e escultura em pedra. Suas representações são modeladas, esculpidas, pintadas ou gravadas.(RUBINGER, M M, p 38).

O alto nível registrado na cerâmica do Norte do Brasil (marajoara e tapajônica) inspirou cientistas a estabelecerem relações entre os exemplares arqueológicos do norte e Sul da América. No que pese ao pouco material de que dispunha, o primeiro a estabelecer comparações entre a América Central e as da Amazônia foi Nordenskild (BARATA F. 1952 p 44). Contando com um vasto material, Helem Palmatary, da Universidade da Pensylvânia realizou o mais completo estudo tipológico da cerâmica. Em seus quinze anos de trabalho conseguiu estabelecer correlações e a existência de semelhanças ou identidades de certos traços das cerâmicas de Marajó e dos Tapajós com os da louça dos "mouds" do Sul dos Estados Unidos.(BARATA, F. 1952 p 44).

Da ilha de Marajó origina-se a cerâmica que se poderia denominar clássica, na arqueologia brasileira, caracterizada pela riqueza dos ornatos geométricos gravados (champlevê) ou pintados com admiráveis traços e perícia em suas urnas funerárias em ídolos e outros variados objetos.

A configuração cultural da ilha de Marajó é muito acidentada. Ocupada e reocupada por povos diversificados que modificaram constantemente o panorama da grande ilha. Cliford e Betty Evans denominaram pela ordem, os quatro segmentos como Anatuba, Mangueiras, Formiga e finalmente Marajoara. Além do material já mencionado os marajoaras usaram tangas de terra cota medindo, aproximadamente, 11 centímetros, de formato triangular, côncava e furos nas extremidades, para suspensão. Eram utilizadas pelas mulheres, no púbis, em rituais fúnebres. A decoração das tangas era feita com finas e graciosas incisões geométricas.(BARATA, F. 1952 p 46)

Caiapônia - Go. Predominância do vermelho. Raramente o preto, a base de minerais. Raras figuras humanas, mas acabadas, seguram crianças, usam porretes e enfrentam animais.

Cerca Grande, Matosinhos - MG. As pinturas, na parte Leste da Lapa estão há 12 metros do solo. Para alcançá-las é necessário atravessar uma longa, acidentada e escura galeria. Predomina a representação de veados. Em uma das janelas eles são distribuídos no espaço chapado, de uma galeria superior, completando uma forma piramidal. Isto é, os tamanhos das representações vão diminuindo na medida em que vão subindo e ocupando o espaço. O desenho do painel revela observação de movimento e suavidade nos contornos, coerentes com a anatomia do animal focalizado. A textura do primeiro veado da base do painel foi obtida através de linhas pontilhadas, no sentido horizontal. Quanto aos demais aplicaram o colorido pleno. Ainda nesta galeria encontramos peixes no sentido vertical. Na galeria Oeste encontramos uma série de pinturas de tamanhos reduzidos, mas todas de cenas de caças ou representações de animais, como um porco flechado. Os pigmentos utilizados eram à base de óxido de ferro abundante nas proximidades do sítio.

O abrigo de Santana do Riacho- MG- Prevalece a monocromática em figurações de veados. Verifica-se algumas superposições de figuras em vermelho. A textura do desenho é feita com aplicação de linhas pontilhadas horizontais e linhas contínuas. Os desenhos desta Lapa, comparados com os de Cerca Grande, apresentam movimentação mais intensa, com prejuízo da forma anatômica.

Passaremos agora a uma abordagem da pintura que mais ou menos corresponde a dos povos agricultores (neolítico).

As formas geométricas como circunferência, quadrado, retângulo e triângulo não são encontradas na natureza. Não correspondem a realidade vivida pelo homem pré-histórico. Por isso, quando o primitivo traça um perfil figurativo usando tais formas geométricas ele começa a chegar a um desenho abstrato. A figuração já exige do fruidor um esforço de interpretação, a exemplo dos painéis de Sete Cidades, no Piauí, onde o realismo mágico cedeu lugar a simplificação e à geometrização das imagens. Em São Raimundo Nonato, PI, na Toca do Salitre encontra-se a figuração de um casal em que o desenho do homem é elaborado a partir de planos retangulares e triangulares. A mulher aparece bem menor que o homem, representada por três blocos geométricos formados pelos membros superiores, abdômen de gestante e membros inferiores. Ainda em São Raimundo Nonato, na Toca da Extrema, homens em volta de uma árvore, formam um curioso painel. Houve uma nítida intenção de organizar o espaço ao ordenar as pessoas em filas harmônicas.

Santarém, centro das explorações arqueológicas da cultura tapajó, localiza-se nas proximidades do encontro do rio Tapajós com o Rio Amazonas. Ninuendaju faz referências desse povo que chegou a defrontar-se com os espanhóis expulsando Orelana em 1542. Em 1630 expulsaram também uma nau inglesa matando os homens que desejavam estabelecer uma plantação de tabaco na região. Mas não pode resistir à aventura portuguesa que os destruiu.(NINUENDAJU, C. 1949) Este povo agricultor fixo em solo fértil, domesticou animais e substituiu as cabaças por vasilhame de argila moldadas nas formas práticas para usos definidos. A cerâmica de Santarém , como é conhecida, é algo mais que um simples aparelho utilitário ou funcional. A graciosidade da composição ultrapassa os limites dos recipientes. Caracteriza-se pela elaborada modelagem de pássaros, animais e figuras humanas, combinada com incisões e ponteados, fixadas ao vaso. O excesso de ornatos em relevo confere à cerâmica um ar de aguçada sensibilidade. Não é uma expressão puramente artística, mas não deixa de revelar uma mensagem altamente estética.

Escultura

Segundo André Prous, no Brasil, muito pouco foi encontrado até hoje em termos de escultura pré-histórica e que as mais bem elaboradas são originárias da região onde predominavam as culturas tapajó e trombetas. (PROUS, A 1984, p 71).

O estudioso Barbosa Rodrigues, em obra publicada em 1899, pensava que os Muiraquitãs eram estatuetas feitas de jade procedentes da Ásia, com os primeiros elementos humanos que povoaram a América (BARBOSA RODRIGUES, J, 1899). Com o tempo a arqueologia descobriu que os Muiraquitãs foram produzidos pelos pré-colombianos da região dos rios Tapajós e Trombetas, com mineral de ótima plasticidade, como esteatita, ardósia, arenito e serpentina. Representam figuras de animais estilizados em linhas geométricas e harmoniosas. Apresentam orifícios paralelos indicando uma utilização prática. Compreende-se por Sambaquis os depósitos constituídos de montões de conchas, restos de cozinha e de esqueletos acumulados por homens pré-históricos, na região sul do Brasil. Enquanto os motivos da escultura tapajó eram animais próprios da hiléia amazônica, os povos dos Sambaquis projetavam os peixes e as aves que eram os complementos de sua alimentação à base de horticultura. O apuro técnico a que chegaram, em alguns exemplares da escultura em pedra, mostram um extraordinário domínio da forma que perseguiram. Era evidente a intenção da delicadeza e da harmonia das linhas quer nas incisões quer nas excisões.

Antônio de Paiva MOURA
Bibliografia

1- RUBINGER, Marcos Magalhães - "Pintura rupestre: algo mais que arte pré-histórica" -Belo Horizonte- Interlivros-1979 pág.29.
2- RUBINGER, Marcos Magalhães-op.cit.Pág.38.
3- REINACH, S. - "L'art et la magie", L'Antropologi - In: Bastide Roger - "Arte e Sociedade " - São Paulo- Cia. Editora Nacional -1971-pág.46
4- RUBINGER, Marcos Magalhães - op.cit.Pág.38
5- BARATA Frederico - "Arqueologia" - In: As artes plásticas no Brasil "- Rio de Janeiro- Banco Hipotecário Lar Brasileiro -1952- págs. 44
6- BARATA, Frederico - op. cit. Págs. 44/46.
7- BARATA, Frederico- Po .cit.
8- NINUENDAJU, Curt - "Os Tapajós" - In: Boletim do Museu Paraense.
"Emílio Goeldi", tomo X, Belém, 1949.
9- PROUS, André - "Os artistas da pedra" - In: "Herança" - São Paulo- Dow-1984 -pág.71.
10- BARBOSA RODRIGUES, J. - "O Muyrakitã e os ídolos symbólicos" - Rio de Janeiro - Imprensa Nacional - 1899. (citado por Frederico Barata).

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